O Globo
(...) Este número aberrante não deveria cair no
esquecimento como uma má notícia entre outras. Cinquenta mil americanos
morreram na Guerra do Vietnam e isso mudou a América. Aqui 50 mil mulheres são
violadas por ano e a sociedade assiste em silêncio.
(...) Um caso isolado de estupro é uma tragédia que o senso
comum põe na conta de algum tarado que ninguém está livre de encontrar numa rua
deserta. São psicopatas que agem por repetição à semelhança dos serial killers.
Requintados torturadores, desprovidos de culpa ou remorso, são descobertos e
presos. Quando saem, reincidem.
Cinquenta mil casos têm outro significado. A psicopatia não
explica. Configura-se uma tara social, uma sociedade que convive com a
violência sexual com uma naturalidade repugnante. São milhares de estupradores
que, assim como os torturadores, transitam entre nós como gente comum. Estão
nas ruas, nas festas, nos clubes, lá aonde todos vão, e passam despercebidos.
Estão nas famílias e nas vizinhanças onde mais frequentemente agem — suprema
covardia — aproveitando-se da proximidade insuspeita com a vítima. (...)
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