terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Faltam farmacêuticos em metade das farmácias do país, diz censo

Folha de São Paulo/CLÁUDIA COLLUCCI

Metade das 97 mil farmácias e drogarias do Brasil funciona irregularmente, sem técnico responsável em horário integral. Na maioria, a falta ocorre em certas horas do dia, mas 10% delas não têm farmacêutico nunca.

Os números constam de um censo obtido com exclusividade pela Folha, que será lançado hoje pelo ICTQ (instituto de pós graduação para farmacêuticos). Lei de 1973 determina a presença do farmacêutico durante todo o tempo de funcionamento da farmácia, sob pena de multas e até interdição do local. 

Entre as funções do farmacêutico estão conferir a receita do médico, orientar o consumidor sobre o remédio e prescrever remédios que não exijam receita médica.

"Em muitas farmácias, é o atendente que faz as vezes de farmacêutico. Isso expõe a população a complicações em quadros clínicos de saúde e até risco de morte", afirma Marcus Vinícius Andrade, que coordenou o estudo.

Dos 1.923 usuários entrevistados, 54% não conseguem diferenciar o farmacêutico do atendente de balcão.

A maior parte das farmácias irregulares se concentra no Nordeste e no Norte. Piauí, Maranhão e Pará lideram o ranking, com 2.639 estabelecimentos sem farmacêuticos.

Para a Abrafarma (associação brasileira de farmácias)existe um déficit de ao menos 30 mil profissionais. Hoje há 180 mil farmacêuticos registrados no país, mas 30% não trabalham em farmácias. Atuam em laboratórios e unidades de saúde, por exemplo. 

"Muitas querem contratar, mas não encontram profissionais. Tem rede reduzindo as unidades 24h porque não acha farmacêutico", diz Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma. 

Já o CFF (Conselho Federal de Farmácia) nega que haja falta de profissionais e afirma que o problema é o excesso de farmácias, muitas delas funcionando de forma ilegal. 

"O Brasil tem cinco vezes mais farmácia do que o necessário. Qualquer baiuca se intitula farmácia, coloca uma prateleira e começa a vender remédio", diz Walter Jorge João, presidente do CFF. 

Segundo ele, há farmacêuticos suficientes e, nos próximos quatro anos, as escolas devem formar mais 80 mil.

João diz que em muitas farmácias tidas como irregulares a ausência do farmacêutico é temporária. "Saiu para almoçar ou está férias e a farmácia não conseguiu repor", explica ele, que contesta os resultados da pesquisa. "Será que eles foram em todas as farmácias e em todos os horários para concluir isso?" 

O ICTQ diz ter cruzado dados de todos os conselhos de farmácia do país com os de farmácias e drogarias. Além disso, entrevistou 1.923 usuários e 2.331 profissionais. 

Para Pedro Eduardo Menegasso, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo, o déficit é causado pela má distribuição dos farmacêuticos. "É o que acontece no caso dos médicos. Há uma concentração de profissionais no Sul e no Sudeste." 

Em alguns Estados, a falta de farmacêuticos chegou ao Ministério Público. Na Paraíba, onde 112 farmácias funcionam sem o profissional, algumas delas se livraram de punição porque provaram que não preenchem as vagas por falta de interessados. 

"Fechar farmácias por falta de farmacêutico não é um bom negócio para a população, sobretudo nas cidades menores", diz Mena Barreto.

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