quinta-feira, 2 de agosto de 2018

País já tem 65,6 milhões fora do mercado de trabalho

A fila do desemprego ficou mais vazia, porque mais brasileiros saíram dela antes de encontra ruma oportunidade. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, o grupo de trabalhadores fora do mercado —ou seja, os que não estão empregados nem em busca de vaga—subiu 1,2% no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores, para 65,6 milhões, o maior patamar da série histórica, iniciada em 2012. Esse movimento ajuda a explicar a queda da taxa de desemprego, que recuo upara 12,4%, abaixo das projeções do mercado. Os dados fazem parte da Pnad Contínua Mensal divulgada ontem.

A taxa de emprego é a proporção entre o número de pessoas que procuram emprego e não conseguem —ou seja, os desempregados — eo total de trabalhadores. Por isso, o indicador diminui quando há menos desempregados no país, seja porque conseguiram vagas, seja porque simplesmente saíram da fila.

Os dados do segundo trimestre são resultado de uma mistura desses dois fatores, já que a geração de vagas, principalmente associadas à informalidade, também ajudou a aliviar o desemprego. Mas a baixa procura pesou mais, segundo especialistas. No período, o número de desempregados recuou em 723 mil pessoas, para 13 milhões. Mas o número de vagas subiu menos, em 657 mil. Ao mesmo tempo, 774 mil trabalhadores engordaram o grupo fora do mercado. A conclusão dessa equação é: nem todos os que deixaram a fila do desemprego conseguiram vaga, e parte deles deixou o mercado de trabalho.

— São menos pessoas procurando emprego. Isso tem sido o principal fator da queda da taxa de desemprego — resume o economista Tiago Cabral, do Ibre/FGV.

Esse grupo que não trabalha nem procura vaga é heterogêneo: inclui jovens que preferem estudar, aposentados, mas também os chamados desalentados, aqueles que desistiram de buscar uma oportunidade porque acham que não vão encontrar. O IBGE só divulgará os detalhes desse levantamento daqui a duas semanas, mas analistas já veem sinais de alta.

EMPREGO FORMAL RECUA
Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, destaca que alonga duração da crise pode ser fator determinante para explicar os que ficam pelo caminho: —Aparentemente, é um sinal de desalento. Quando a crise começou, em 2015, muita gente que não estava no mercado passou a procurar emprego. Agora, aquelas que não conseguiram estão desistindo.

Mary Silva, de 29 anos, está nessa busca há dois anos, mas não desistiu. Com experiência como auxiliar de controle de qualidade em uma grande empresa de confecção, ela tentava ontem uma vaga em uma feira de emprego, que atraiu centenas de pessoas no Rio. O longo tempo fora do mercado, no entanto, atrapalha na hora das seleções.

— Muitas vezes as vagas exigem qualificações que se tornam inacessíveis para quem está desempregado. Há também uma resistência amulheres com filho, principalmente se são muito pequenos—conta Mary, que tem um filho de 5 anos.

De acordo com analistas, a tendência é que o cenário melhore nos próximos meses, masa qualidade das vagas gerada sé uma preocupação. No segundo trimestre, a maioria das oportunidades criadas foi sem carteira assinada: o contingente de trabalhadores nessa condição aumentou em 276 mil frente ao primeiro trimestre, para 10,9 milhões. No setor público, houveu ma alta trimestral de 392 mil vagas, influenciada porre contratações nas prefeituras, comuns nessa época do ano. Ao mesmo tempo, o grupo de empregados formais recuou em 79 mil, para 32,8 milhões, o menor patamar da série histórica.

Parte desse efeito está relacionado ao ritmo lento da economia, já que contratar um trabalhador com carteira assinada representa um investimento. Analistas até esperavam alguma recuperação das vagas formais nessa época do ano, mas a piora do cenário causado pela greve dos caminhoneiros foi um freio nas estimativas.

— Nossa expectativa era que melhorasse mais no segundo trimestre, que acabou sendo impactado por esse evento que não estava no calendário —afirmou Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, que projeta taxa de desemprego em 10,7% até o fim do ano.

Para Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, o desemprego chegará ao fim do ano em 11,5%: —Fatores aumentaram a incerteza no cenário, prejudicando consumo, investimento e geração de vagas.

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